Acompanhar o crescimento de um município em desenvolvimento faz da sua população uma comunidade afortunada, capaz de entender os conceitos da vida em sociedade e de, ao mesmo tempo, lutar por dias melhores e pelo seu progresso. Nesse contexto, São Martinho, localizado no Noroeste do Estado, Região Celeiro, comemorou na última quarta-feira, 27 de novembro, seus 61 anos de emancipação político-administrativa.
A história da Cidade das Flores, começou a ser escrita em meados de 1920, com a chegada das primeiras famílias luso-brasileiras, apesar de caboclos já residirem por estes rincões, os quais se dedicavam à sobrevivência por meio do desmatamento e da extração da erva-mate nativa. Com o passar do tempo, esses caboclos deixaram suas terras, muitas vezes expulsos, para dar lugar a novos colonizadores. Entre 1935 e 1940, São Martinho, então conhecido como Vila Nova da Serra, passou a atrair imigrantes, principalmente de origem germânica. A abertura de um estradão que ligava a vila a Boa Vista do Buricá foi um marco importante para o desenvolvimento da região, permitindo o escoamento da produção agrícola e facilitando o comércio.
A emancipação do município ocorreu oficialmente em 27 de novembro de 1963, após um plebiscito. A denominação São Martinho homenageia o padroeiro da cidade, um célebre bispo da Igreja Católica que viveu na França. A primeira administração municipal foi eleita em 8 de março de 1964, com Geert Lorenz como prefeito e Otto Alberto Wächter como vice-prefeito, além dos vereadores Júlio Carlos Hammes, Asyr José Licks, Cassildo José Flach, José Ervino Dobler, Silvio Schwaab, Laudelino Rodrigues da Silva e Osório Lopes do Nascimento.
Conforme relatado no livro São Martinho 1964-1996: 32 Anos de Progresso, as dificuldades da primeira gestão eram imensas. Faltavam maquinários, mobília e recursos básicos para o funcionamento do poder público, mas a união e o esforço da comunidade marcaram o início de uma trajetória de progresso. “Por ser a primeira administração, esta enfrentou sérias dificuldades, pois, para iniciar, não havia prédio próprio e muito menos mobília, maquinários e demais objetos de trabalho.[…] A nova prefeitura foi instalada numa antiga casa comercial, que pertencia ao senhor Arnoldo Reimann, por vários anos, o qual não cobrou aluguel. Também foram doados alguns móveis, como o birô pelo então prefeito”, diz.
A professora e responsável pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de São Martinho, Rosilei Weber Colling, ressalta as inúmeras dificuldades enfrentadas ao longo da sua história, todas superadas por meio da união do seu povo. “Inúmeras eram as dificuldades vivenciadas no início da sua emancipação. Aos poucos a comunidade foi se unindo, construiu o hospital, a igreja, todos por meio de mutirões. Todas as comunidades se ajudavam em prol do desenvolvimento”, coloca.
Em entrevista ao documentário, Memórias Vivas da Nossa Terra, residentes recordam momentos da colonização. Maniro Führ, 85 anos, foi um dos entrevistados e lembra a chegada da família à região em 1950, vindos de Arroio do Meio. “Éramos entre 12 irmãos, seis rapazes e seis moças. O pai veio três vezes a São Martinho até que comprou a terra. Derrubamos o mato para plantar fumo em folha, naquela época pouco se plantava soja, pois era tudo manual. Havia muitos moinhos, todos tocados a água, o que hoje não existe mais. Não existia supermercado, apesar do bolicheiro ter bastante produtos à venda. Plantavamos mandioca, milho, arroz (dava bastante aqui nessa terra vermelha”, lembra. Ainda segundo ele, a única pessoa da comunidade a ter um veículo era o padre. “Se alguém ficava doente e precisava ir a Cerro Largo, era o padre que levava. E durante a ausência deste vizinho, os demais iam até a propriedade para cuidar das terras, lavrar, e hoje não temos mais isso”, relata. Maniro recorda ainda as suas contribuições na construção do Hospital São gregório. “Eu ajudei a construir o hospital velho, era servente. Toda aquela parte foi construída com barro”, acrescenta.
A agricultora, Rosália Nichele Knorst, lembra que a família levou pelo menos cinco dias para chegar a São Martinho. Na época, eles residiam na Linha 7, interior de Santa Maria. “Meu pai veio passear em uma tia, na busca por terras para comprar. O terreno onde foi construída a Escola Estadual foi doada pelo meu pai. Ele sempre dizia que tínhamos que ajudar para que o lugar fosse para frente”. Ela recorda as dificuldades vivenciadas na época para que pudesse chegar até a escola. “Tinha que passar pelos potreiros, no meio do gado, taipa de açude, os pais não tinham medo antigamente”. Outro detalhe ressaltado pela agricultora, era quanto ao dialeto utilizado na época. “Nós falávamos em brasileiro somente na escola, em casa era tudo em italiano”, acrescenta. “Eu acho que São Martinho era mais bonito do que é agora. A meninada se juntava para brincar, fazíamos casinha, brincavamos de se esconder, o pai fazia balanço nas árvores. A avó doava as louças quebradas para que a gente pudesse brincar. Era muito bom”, relata.