Fogo de chão arde há 8 anos no galpão do Tibúrcio da Estância
Desde que a humanidade despertou o fogo de chão ilumina “o rancho de torrão, a casa do posteiro, o acampamento, o pouso, o galpão do estanceiro, quer sucedendo o sol, quer precedendo o dia”, verseja Félix Contreiras Rodrigues. É ali, à luz da labareda, ao calor do braseiro, onde se assa o churrasco e a chaleira chia, como diante do altar de onde a vida irradia, é que o guasca comunga em rito campeiro”, completa em seu sopro lírico na estância da poesia crioula.
De quando em quando, as ressonâncias da tradição ancestral somam nuanças estéticas para que um poeta se faça poeta de se povo, de sua terra e de sua época. Aqui, em fundo de magia, transita um poeta vibrante, que alcança em toda a sua grandeza a singularidade de suas rimas, até como intérprete e músico. Refere-se a Tibúrcio da Estância, com galpão temático em Santo Augusto, mantendo fogo de chão aceso há 8 anos, completados no pretérito dia 8 de março.
Fogo de chão, consagrado pela tradição nativa, é ali que Tibúrcio da Estância se coloca em reverência, como que em estreita comunhão, contemplando o seu arder enquanto fumaça negrinha, lá no alto do galpão, reforça cada picumã. Afinal, beleza é sempre beleza, eleita segundo a visão de cada um, quer fluindo como murmulho de água, cambianças do verde nas longas distâncias, rubores de cada alvorecer, o fascínio dos crepúsculos, amplitude paisagística que, enfim, pertence ao poeta da estância. É neste ritual, diante do fogo de chão, enquanto aquece a água do chimarrão, cozinha feijão, arroz, canjica, frita carne, na panela, o poeta dá ritmo e sonoridade, batendo bota para cadenciar, abre a cordeona, que “se encurva, corcoveia, ondula, vai-vem (na visão de Augusto Meyer Júnior), Tibúrcio da Estância, parecendo desdobrar a verdência das coxilhas e planuras, canta o que vive e vive o que canta, expressando a impetuosidade de sua alma e o sabor das nossas coisas.
Por: Lúcio Steiner