Uma vitória sobre limitações existenciais

Os valores da educação inspiram e contribuem para a libertação dos temores de toda a natureza, facilitam a criatividade da fascinante aventura de viver por uma participação intensa e significativa na construção da história do homem. A prática educacional compreende a confiança na capacidade criativa. Logo, assim organizada de forma que o aluno, sobretudo o de limitações existenciais, possibilita desenvolver-se na plenitude de sua estatura humana.

Ao encontrar horizontes no caminho da educação e profundo respeito pelo que é diferente, estimulado por um grupo de professores, Matheus de Mello Bahry despertou para uma vida consciente e libertadora. Filho de Valmir Bahry e Eliane Martins de Melo, pequenos agricultores laborando no regime da agricultura familiar no interior de Santo Augusto, a cerca de 2 quilômetros da sede municipal, o menino nasceu sob signo de necessidades especiais. Aos 08 anos começou a frequentar a Escola de Educação Especial Bem Me Quer, mantida pela Associação de Pais e Amigos do Excepcional (APAE) recebendo atendimento com técnicos e também o AEE (Atendimento Educacional Especializado).
Hoje, aos 15 anos , estuda na Apae e na Escola Estadual de Ensino Fundamental Francisco Andrighetto na modalidade EJA- Educação de Jovens e Adultos, onde está concluindo o ensino fundamental. É o próprio Matheus que prefere narrar sua trajetória de vida, “Moro no interior, aproximadamente 2 quilômetros de estrada de chão que percorro muitas vezes a pé para chegar à escola. Venho de uma família simples com costumes tradicionais. Quando não estou na escola ajudo meu pai na lavoura ou nos cuidados dos animais, principalmente de meu cavalo de quem gosto muito.
Quando matriculado na escola regular, logo foi percebido que não estava acompanhando o ritmo da turma, Mesmo assim, necessitando tempo de adaptações, fui encaminhado a uma professora do Atendimento Educacional Especializado, que após avaliações iniciais fez os encaminhamentos técnicos. Começou-se uma rotina de exames, avaliações, busca de profissionais. Foi muito difícil para meus familiares assimilarem o diagnóstico e assim mesmo continuei frequentando a escola regular, com atendimento especializado semanal e também com a rotina de idas e vindas em a especialistas (psicólogos, neurologistas e fonoaudiólogo) quando então terceiro ano do ensino fundamental, por sugestão da professora, iniciei a frequentar a Escola Especial, simultaneamente com a escola regular e o AEE. Basicamente tinha aula o dia todo. “
Sequenciando a vida escolar, Matheus de Melo Bahry então passa a frequentar somente a Escola Especial. “Foi um período de muitas aprendizagens e superação dos preconceitos de ser um aluno apaeano” lembra Matheus. Porém, “um dia a psicóloga da instituição, Claudia Sperotto Ferreira Padilha, teve a ideia de que retornasse ao ensino regular, visto que a Escola Especial é por classificação de etapas e na regular eu teria uma conclusão de série. Para isso, sua inserção teria que acompanhar a idade cronológica, ou seja, inserir-me na fase final do ensino fundamental. Começamos por mais uma batalha, quase desistida pelos meus pais, mediante tantos nãos. Mesmo com a busca ativa da psicóloga e demais profissionais que acreditavam na possibilidade da ideia. Mas não bastaria apenas a inclusão, precisaria de adaptações curriculares e o apoio de um professor especializado. Nesse caminho manifestou-se a professora Izabel Cristina de Castro Buzanelo, que já atuava na APAE e no AEE da Escola Estadual Francisco Andrighetto, assim, com a matrícula efetivada na referida escola, retornei às inúmeras atividades escolares, retomando o conteúdo com a professora na APAE e com o mesmo apoio na escola regular, com adaptações, esforço, trabalhos, angústias, medos, mas superados mediante a perseguição ao sonho em atingir a conclusão do ensino fundamental.”
Por considerar uma verdadeira vitória sobre as limitações existenciais, Matheus de Melo Bahry, recebe na data de 14 de julho do corrente ano o seu certificado de conclusão do ensino fundamental, fazendo questão de ressaltar “que nada teria sido possível sem o apoio de vocês, que foram presentes nessa caminhada. Agradeço à minha família, à psicóloga Cláudia e à equipe de técnicos e professores da APAE, à ex- diretora Loeidi Klock e à coordenadora e atual diretora Cleunice Pereira da Silva. Um agradecimento especial à equipe diretiva da Escola Estadual Francisco Andrighetto, à diretora Linéia Fucilini e à vice-diretora Marilei Andrighetto que também responde pelo EJA, que tão bem me acolheram e compreenderam a situação, mostrando que de fato é uma escola acolhedora e muito especial, bem como aos demais professores do EJA. À professora Izabel Cristina de Castro Buzanelo que se desafiou, me acompanhou nas duas escolas, me dando alguns puxões de orelha, mas sempre com paciência e calma para conseguirmos de mãos dadas vencer essa etapa, superar as dificuldades e ressignificar muitas aprendizagens.”
Hoje os sonhos de Matheus são de alçar voos, cursar o Técnico em Agropecuária, objetivo que já está sendo viabilizado para que se concretize. Ele é um exemplo de superação, mostrou que nada é impossível, quando temos um sonho que devemos buscar, persistir e não desistir.

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