O médico e outros três réus já haviam sido condenados em 2019, mas Boldrini teve o julgamento anulado e foi encaminhado a novo júri, que se encerrou nesta quinta-feira (23)
Passava das 19h30 da noite de ontem, quinta-feira, 23 de março, quando a Juíza, Sucilene Engler Werle anunciava o veredito de condenação do segundo júri de Leandro Boldrini, o qual era acusado de ser o mentor intelectual do homicídio do filho, Bernardo Boldrini, ocorrido em 2014. O médico foi condenado a 31 anos e oito meses de prisão por homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo fútil, dissimulação e emprego de veneno) e falsidade ideológica. Ele também era acusado de ocultação de cadáver, porém, deste, foi absolvido.
O júri iniciou na segunda-feira, 20 de março, em Três Passos, e reuniu cerca de 10 testemunhas, as quais responderam a questionamentos de acusação e defesa.
Ao final, a promotora Lúcia Helena Callegari se disse satisfeita com o resultado, apesar de reconhecer que esperava uma pena maior. “A comunidade torcia para esse resultado, trazendo pelo menos a certeza da justiça e que não houve impunidade”, destacou. Com relação a pena, ela comentou. “Eu, hoje, esperava uns 40 anos”, concluiu.
O promotor Miguel Germano Podanosche acrescentou que o MP tinha “convicção” de que a cidade não faltaria com a Justiça. “A comunidade atendeu ao chamado, não decepcionou, honrou a memória de Bernardo”, disse.
Já a defesa de Leandro Boldrini informou que, depois de nove anos, está deixando o caso. Um possível recurso será avaliado. “Respeitamos a decisão do júri. Porém, foi uma decisão de maioria apertada, onde três dos sete jurados entendeu pela inocência do Leandro e esse placar nos dá força para buscar um recurso. Contudo, isso depende muito do Leandro, é ele que irá decidir”, colocou o advogado Ezequiel Vetoratti.
Réu esteve apenas um dia no plenário
O médico participou apenas do primeiro dia de julgamento, na segunda-feira, 20 de março, e se retirou por alguns segundos quando vídeos de Bernardo foram exibidos. Nos dias seguintes, ele chegou a se deslocar até o fórum, mas não permaneceu na sessão por questões de saúde.
Segundo informações, Boldrini teve um surto psicótico em razão de estresse e não tinha condições de ficar em plenário. Ele foi atendido por uma equipe médica e depois levado ao presídio de Ijuí, onde seguiu recebendo atendimento.
No último dia do júri, um dos momentos mais aguardados era o depoimento de Leandro, o que não aconteceu. “A não participação do Leandro não foi uma questão de escolha, foi uma indicação médica. Ele não tinha condições. Ele poder falar teria sido algo muito importante”, considerou a defesa.
Ao longo do julgamento, a defesa, que era feita pelos advogados, Rodrigo Grecellé Vares e Ezequiel Vetoretti, argumentaram que não havia “prova cabal” que ligasse o réu ao planejamento e execução da morte do filho.
O assassinato
Bernardo Boldrini desapareceu em abril de 2014, aos 11 anos. Após 10 dias de desaparecimento, o corpo foi encontrado dentro de uma cova vertical, com cerca de um metro de profundidade. Estava de cócoras, levemente inclinado para o lado direito e envolto por um saco plástico. O matagal onde ele foi enterrado fica na localidade de Linha São Francisco, em Frederico Westphalen.
O menino morava com o pai, a madrasta e uma meia-irmã. Bernardo teria sido morto por Graciele, com a ajuda da amiga, Edelvania Wirganovicz, e do irmão dela, Evandro Wirganovicz. Boldrini foi apontado como mentor intelectual do crime. Os quatro foram condenados em 2019. No entanto, o médico teve o julgamento anulado porque o Tribunal de Justiça do Estado entendeu que o Ministério Público violou o direito do médico de ficar em silêncio em parte do interrogatório.
A situação dos demais condenados
Graciele Ugulini (madrasta) — condenada a 34 anos e sete meses de reclusão em regime inicial fechado, está presa no Presídio Feminino Madre Pelletier com previsão de progressão para o semiaberto em 2026;
Edelvania Wirganovicz (amiga de Graciele) — condenada a 22 anos e 10 meses de reclusão em regime inicial fechado, cumpre pena no regime semiaberto no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre;
Evandro Wirganovicz (irmão de Edelvania) — condenado a nove anos e seis meses em regime semiaberto e atualmente em liberdade condicional.