Deputado Janones é suspenso por 90 dias após confusão com Nikolas Ferreira no plenário da Câmara

O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados decidiu nesta terça-feira (15) suspender por três meses o mandato do deputado André Janones (Avante-MG), após uma acalorada confusão com o também deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) durante uma sessão legislativa na semana passada. A medida tem efeito imediato e foi aprovada por ampla maioria: 15 votos a favor e apenas 3 contrários.

Com a suspensão, Janones ficará temporariamente afastado de suas funções parlamentares e perderá tanto o salário mensal de R$ 46,6 mil quanto o acesso às verbas destinadas ao exercício do mandato. Além da punição sumária, o Conselho decidiu abrir um processo de cassação, que seguirá os trâmites convencionais.

O embate entre Janones e Nikolas, figuras centrais do embate entre lulismo e bolsonarismo nas redes sociais, ocorreu durante um discurso em que Nikolas responsabilizava o governo Lula e o Supremo Tribunal Federal pela recente decisão do ex-presidente norte-americano Donald Trump de impor uma sobretaxa de 50% ao Brasil. Janones, posicionado entre parlamentares aliados da esquerda, gravava vídeos rebatendo os argumentos do colega, o que gerou tensão no plenário.

A troca de provocações culminou em empurra-empurra e gritos. Vídeos exibidos durante a sessão do Conselho mostram Janones chamando Nikolas de “cadelinha”, termo que o relator do caso, Fausto Santos Jr. (União-AM), classificou como homofóbico. O parlamentar do Avante, por sua vez, alegou que foi hostilizado e até mesmo agredido fisicamente por parlamentares bolsonaristas — chegando a relatar que teve suas partes íntimas apalpadas durante o tumulto. A denúncia, porém, foi alvo de piadas entre aliados de Nikolas na sessão que definiu a suspensão.

Apesar da polêmica, o novo rito sumário, criado em 2024 para conter cenas de tumulto e agressividade na Câmara, foi o que viabilizou a punição rápida. A ferramenta já havia sido usada anteriormente contra o bolsonarista Gilvan da Federal (PL-ES), suspenso por ofensas à ministra Gleisi Hoffmann (PT). No entanto, críticos apontam que, embora a norma tenha objetivo disciplinador, sua aplicação pode estar sendo contaminada por disputas político-ideológicas.

A oposição à suspensão ganhou força entre deputados de partidos como PT e PSOL. Maria do Rosário (PT-RS) criticou o que chamou de “padrão seletivo de punições” e comparou o caso ao episódio em que Nikolas, durante discurso no Dia Internacional da Mulher, usou uma peruca loira para ironizar a luta das mulheres trans — atitude amplamente criticada por organizações de direitos humanos. “O premiado será o tal Nikolas, que poderá subir de novo na tribuna para enxovalhar este plenário?”, questionou.

Nas redes sociais, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), também reagiu, apontando o que considera uma incoerência nas punições. “Enquanto Janones é afastado por ironizar Nikolas, outros parlamentares seguem impunes mesmo após ataques graves à democracia. Dois pesos, duas medidas.”

Janones afirmou que vai recorrer da decisão. Enquanto isso, o ambiente na Câmara segue polarizado, com o Conselho de Ética sob os holofotes — e a política brasileira, cada vez mais, sendo travada tanto nos corredores do Congresso quanto nas redes sociais.

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