Crise induz produtores de leite a abandonarem a atividade

Produtores de leite sofrem com preços baixos e mercado interno enfraquecido

A faixa exposta durante a Expointer chama a atenção –  um pedido de socorro, escrito em letras garrafais, escancara a crise sem precedentes vivenciada pelo setor leiteiro. “Estão matando os produtores de leite. Será difícil recuperar o setor”, diz. O aumento explosivo nas importações de leite e derivados, advindos do Mercosul, deixou um setor à beira do colapso. Diante disso, autoridades buscam se reunir para discutir possíveis soluções para este problema e tornar o mercado brasileiro novamente atrativo para o setor industrial.

Ainda durante as programações da 24ª Expofeira, ocorrida entre 18 a 20 de agosto, o vice-presidente da Fetag/RS, Eugenio Zaneti, ministrou uma palestra tratando o assunto. Segundo ele, desde 2016, 52% das famílias produtoras de leite desistiram da atividade no Estado. “Em 2021, O Rio Grande do Sul tinha 40 mil produtores de leite; nos últimos dois anos, 10 mil abandonaram a atividade”, divulgou. Para ele, a alta necessidade de investimento e também a exigência de disponibilidade, estão sendo fatores primordiais para essa debandada. “Quando o produtor desiste da atividade, ele não retoma mais. A produção leiteira exige muito investimento, capacidade técnica e tecnologia, então por ela ser 365 dias por ano, sete dias por semana, ou seja diária, sem intervalo e sem descanso, muitos acabam abandonando”, disse.

Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Clóvis Sequinatto, as medidas recentes anunciadas pelo Governo Federal não são suficientes para resolver o problema. “Se o produtor não trabalhar com economia, está com os dias contados. Os governos dos outros países estão subsidiando os produtores, o que torna a concorrência com nosso mercado interno desleal, quando analisamos as altas exigências em investimento. Sem falar no preço do litro do leite, que em Santo Augusto a média é R$ 2,00; sendo que temos produtores que chegam a receber R$ 1,30”, colocou o presidente.

Clóvis ainda destaca a necessidade de cautela dentro das propriedades e orienta aos produtores que trabalhem da porteira para dentro . “Uma das formas de economia, é que o trato dos animais seja produzido dentro da propriedade, isso reduz consideravelmente os gastos”, colocou.

É PRECISO ECONOMIZAR

Segundo dados da Emater, Santo Augusto possui 75 produtores, destes, duas são agroindústria. Ao todo, cerca de 18.900.000L de leite são produzidos na Cidade Pérola da Região Celeiro.

Para o extensionista rural e engenheiro agrônomo, Dhonathã Rigo, a solução para referida crise, além do apoio governamental, é buscar reduzir os custos dentro da propriedade. “A alimentação dos animais, corresponde a cerca de 60% dos gastos de uma propriedade, logo é importante buscar estratégias de produção de volumoso de baixo custo”, sustenta. Segundo ele, “o sistema de confinamento acaba sendo mais vulnerável em uma redução de preço de mercado de mercado, comparado ao sistema a pasto, que o agricultor consegue ajustar o sistema a pasto, que o agricultor consegue ajustar o custo de produção e superar com mais facilidade as crises, ou seja, ser mais resiliente”, avaliou.

Questionado sobre a grande evasão de produtores diante da continuidade do ofício, ele considerava inúmeros fatores. “Preço mínimo, natureza da atividade, escassez de mão-de-obra e falha na sucessão familiar. Acredito que os altos custos de produção são inerentes de cada sistema adotado pela propriedade. E teve também a questão das perdas recorrentes, em virtude da estiagem, que influenciam no custo de alimentação”, colocou.

PRODUTOR QUESTIONA A QUALIDADE DO LEITE IMPORTADO

Com cerca de 150 vacas em lactação e produzindo aproximadamente 180 mil litros de leite por mês, Jarbas Sperotto, é um dos inúmeros produtores que questionam os fatores que desempenha tal cenário.

Para ele, a falta de taxação do mercado externo e de fiscalização dos produtos que entram advindos de outros países, são fatores preocupantes. “Tínhamos competitividade. Porém, com as taxas de importações zeradas, fica difícil competir.

Outra questão levantada por Jarbas é o monopólio de algumas multinacionais, que acabam prejudicando o produtor. “10 litros de leite correspondem a 1kg de queijo, mas e o restante do produto, o que é feito? Esse monopólio de algumas multinacionais, prejudica o produtor”, argumenta.

Ainda conforme o ex-consultor técnico da Syngenta, todos os anosas propriedades que trabalham com leite registram baixas, mas nunca durante o período de entressafra. “Esse governo atual contribui para isso”, coloca.

Para Jarbas, os fatores climáticos também têm a sua parcela de contribuição para a instalação da atual crise. “Os custos operacionais atuais são do milho do ano passado, o qual foi cultivado em meio a uma estiagem. No momento em que o produtor esperava recuperação, advindo de um fator climático negativo, vem esse leite de fora, com taxa 0% afetando os nossos preços em torno de 40%”, conclui.

 

 

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