Um raio x das potencialidades regionais

Bacia leiteira, polo de móveis, proteína animal e exportação, universidades e inovação, impulso das cooperativas e turismo, são apontados como as principais potencialidades da Região Celeiro

Pelo terceiro ano consecutivo, o Jornal do Comércio divulgou o projeto Mapa Econômico do Rio Grande do Sul, uma radiografia detalhada dos 497 municípios gaúchos que revela números e as transformações silenciosas que moldam o futuro das regiões. Na edição de 2025, o estudo trouxe além de dados populacionais e do Produto Interno Bruto (PIB) municipal, informações sobre emprego, renda, atividades produtivas e participação dos 28 Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) no PIB estadual.

No caso da Região Celeiro, os dados evidenciam contrastes, mas também destacam um cenário de potencial crescente — um território que combina tradição agropecuária, industrialização em expansão e novas oportunidades em inovação e turismo.

O agronegócio continua sendo o principal motor da economia da Região Celeiro. A produção de grãos, leite e proteína animal forma o tripé que sustenta o crescimento local e movimenta cadeias produtivas que vão muito além das propriedades rurais.

A produção de proteína animal, por exemplo, é um dos pilares da economia do Norte do Estado, concentrando mais de 70% da produção gaúcha de suínos. Essa cadeia verticalizada — que envolve desde o cultivo de grãos até o abate e processamento — atrai investimentos de grandes frigoríficos e fortalece as economias municipais. Em Três Passos, destaca-se a suinocultura integrada, enquanto Miraguaí desponta na produção de frangos. O crescimento dessas atividades impulsiona também indústrias de ração e o transporte de grãos, ampliando a circulação de riqueza em toda a região.

Para o prefeito de Três Passos, Arlei Tomazoni, a suinocultura é um dos grandes pilares da economia do município. Segundo ele, a presença do frigorífico da Seara/JBS é um grande diferencial, pois emprega diretamente mais de 1,3 mil trabalhadores, realiza o abate de cerca de 2,6 mil suínos por dia e movimenta aproximadamente 250 toneladas de carne diariamente, além de gerar cerca de dois mil empregos indiretos.

“Atualmente, contamos com 107 suinocultores em atividade, que são fundamentais para o fortalecimento dessa cadeia produtiva e para a geração de renda no campo. Esse desempenho demonstra a força do agronegócio local e o quanto ele é essencial para o desenvolvimento do município. Temos leis de incentivo que estimulam tanto a suinocultura quanto os demais segmentos do setor agropecuário, garantindo condições para que novos investimentos continuem chegando e fortalecendo nossa economia”, enfatiza o gestor.

O cooperativismo é outro pilar estratégico. Campo Novo, com a Cotricampo, exemplifica o papel das cooperativas no desenvolvimento rural sustentável e na agregação de valor à produção agrícola. A força cooperativa local tem se traduzido em modernização de processos, capacitação de produtores e retorno direto ao município em forma de investimentos sociais e estruturais.

“O agro tem buscado alternativas para driblar as dificuldades e desafios que se apresentam, ano após ano. E o cooperativismo agropecuário tem demonstrado um grande vigor, atuando ao lado dos produtores rurais associados, prestando apoio técnico no campo, gerando resultados na indústria, apresentando segurança e liquidez aos negócios, e impulsionando iniciativas que garantem retorno financeiro e de qualidade de vida aos municípios onde atuamos”, destaca Gelson Bridi, presidente da Cotricampo, cooperativa presente em 21 municípios da região Noroeste do estado.

A bacia leiteira do Noroeste Gaúcho figura entre as mais expressivas do Brasil. De acordo com levantamento da Embrapa Gado de Leite (2023), municípios como Crissiumal e Tenente Portela estão entre os maiores produtores de leite do país, sustentando uma cadeia que movimenta cooperativas, laticínios e pequenas indústrias. A industrialização tem avançado, com novos investimentos na produção de queijos e derivados em municípios vizinhos, como Palmeira das Missões, o que tende a gerar efeitos positivos também para a Região Celeiro.

Além da produção agropecuária, a região apresenta uma forte vocação moveleira, especialmente em Crissiumal, que abriga indústrias consolidadas no setor. O segmento de móveis sob medida e marcenarias familiares tem expandido a partir da demanda local e regional, mostrando que o interior pode unir tradição artesanal e inovação tecnológica.

A presença de instituições de ensino e pesquisa tem contribuído para a diversificação econômica. Santo Augusto, com o Instituto Federal Farroupilha (IFFar), e Três Passos, com unidades da Unijuí, IFFar e UERGS, são polos de inovação, tecnologia e empreendedorismo jovem.

Essas instituições têm promovido projetos voltados à agricultura de precisão, energias renováveis e formação técnica, criando um ecossistema que favorece o surgimento de startups e novos modelos de negócio, tal como o Instituto Federal Farroupilha Campus Santo Augusto que surgiu para atender a demanda de ensino profissional da região, oferecendo educação profissional e tecnológica, através de cursos técnicos integrados ao ensino médio, cursos superiores (bacharelado, licenciatura e tecnólogo) e pós graduação, nas áreas de agronomia, administração, computação e alimentos, tem contribuído fortemente para com os arranjos locais e regionais, tudo de forma gratuita.

A diretora da instituição, Márcia Fink, diz que o campus tem contribuído fortemente para com os arranjos locais e regionais. “Entregamos para a sociedade profissionais qualificadíssimos para atuar nas mais diversas áreas, bem como impulsiona o desenvolvimento socioeconômico local, promovendo interação com a sociedade através da pesquisa, da extensão e da inovação, atuando como um agente de transformação social e econômica da região. O IFFar-Capus Santo Augusto é uma instituição de destaque regional”, coloca.

No extremo da Região Celeiro, Derrubadas tem se destacado por seu potencial turístico e ambiental, impulsionado por investimentos no Salto do Yucumã e no Parque Estadual do Turvo, que passaram por melhorias de infraestrutura e promoção nos últimos anos.

A valorização do turismo ecológico, de aventura e de observação da natureza coloca o município em uma nova rota de desenvolvimento sustentável, gerando emprego e renda sem abrir mão da preservação ambiental. O desafio, segundo gestores locais, é consolidar uma cadeia de serviços e hospedagem capaz de atender à crescente demanda e atrair visitantes de todo o país.

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