Três Passos: FETRELI, 1973, o ano do broto embrionário

Desde tempos imemoriais, o livro (nos primórdios apenas manuscritos) vem dando rumo à civilização que pensa e se humaniza. Ele, o livro, tem a capacidade de gerar visão sobre o universo, pois fonte do anseio humano de conhecer a verdade última, oportunizando ao homem adquirir a valorosidade que lhe permita uma vida consciente, enfim, capaz de conduzi-lo à plenitude de sua grandeza suprema.

Do propósito de construir o desenvolvimento do homem para que possa expressar suas potencialidades nas relações pessoais e descobrir a razão de sua existência, o seu viver, Três Passos, recebe singular notícia, propondo que assumisse protagonismo na fundamentação da sociedade e da cultura. “De 24 a 29 de outubro de 1973, realizar-se-á em nossa cidade a I Feira Trespassense do Livro, numa promoção do Grêmio Cívico e Literário Monteiro Lobato e do Clube do Livro, ambos do Colégio Ipiranga que, na força da união, encontraram condições para a realização desta gigantesca obra”, escreveu O CELEIRO ao dar movimento ao que despertaria a consciência da comunidade para a conquista do ideal da realização humana sob o concurso do livro.
“Espera-se grande público e que os trespassenses não deixem de prestigiar esta realização de jovens que, pensando como adultos, trarão para esta região uma excepcional oportunidade de adquirirem bons e variados livros”, acrescentou o periódico, observando ainda que seriam armadas tendas ao lado do Banco do Brasil hoje terreno que localiza a Receita Federal. Já na edição de 1º de novembro de 1973, também na página 5, O CELEIRO registrou que “a feira movimentou o estudantado local e regional”, revelando que “aproximadamente dois mil volumes foram vendidos somente no primeiro dia de exposição”, fazendo com que os promotores viajassem a Porto Alegre para solicitar que “as editoras recompusessem as estantes com novos livros”. Estava posto o broto embrionário que derivou ao que se tornaria a mais longeva feira de livros que se conhece na terra que nos oferece o chão,

a partir de 31 de agosto, já decorrendo a 50ª Feira Trespassense do Livro (Fetreli), no Centro de Eventos do Colégio Ipiranga.

 

Preparativos para o evento literário do ano

A Feira Três-passense do Livro, promovida e organizada pelo Colégio Ipiranga de Três Passos, chegou à sua 50ª edição, trazendo uma trajetória de amor pelos livros e pela leitura.
Desde a sua primeira edição, em 1973, essa festa literária tem sido um espaço de encontro entre autores, leitores e entusiastas da literatura e tem-se mantido como um evento importante, não só para a Três Passos, mas para a Região Celeiro. Por isso, essa data tão especial é comemorada com muito orgulho e alegria, pois ela serve para relembrar momentos marcantes e as tantas histórias que fazem parte dessa jornada literária de 50 edições.
A FETRELI, representa um marco significativo para a comunidade literária e reflete a consolidação de um evento cultural de grande importância que, ao longo de sua história, contribuiu para a democratização do acesso à leitura, permitindo que pessoas de todas as classes sociais pudessem ter acesso a obras literárias, o que coopera para a formação de cidadãos mais críticos e informados.
Três pontos da feira merecem destaque neste cinquentenário:
1 – Abre espaço de encontro e debate sobre os mais variados temas relacionados à literatura.
2 – Proporciona o encontro entre autores e leitores e isso incentiva novos autores a publicarem seus trabalhos e abre oportunidades para que autores já consagrados se conectem com seu público.
3 – Contribui para a preservação da memória cultural e promove a história da literatura e da leitura.
A 50ª edição da Feira do Livro transcende números e estatísticas, assumindo um significado profundamente afetivo. Ela representa um momento de união, celebração e reflexão, evidenciando o papel fundamental da literatura na construção de um mundo mais rico, diverso e humano.
Nesta edição da FETRELI, o desafio à leitura novamente convida a embarcar em uma jornada literária inesquecível, onde cada página abre as portas para novos mundos e infinitas possibilidades.
De 31 de agosto a 06 de setembro, a 50ª FETRELI será o portal mágico, que abre as portas para a sabedoria, a criatividade e a empatia. (Assessoria de Imprensa/Colégio Ipirnga)

Aqui somos estimulados à leitura

Meu nome é Gustavo Dal Magro Devens, sou presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Ipiranga e é um prazer fazer parte da 50° Fetreli. Estudo nesta escola há muitos anos e adoro como aqui somos estimulados à leitura desde pequenos, desde as aulas de leitura e idas à biblioteca, até a semana da Fetreli, típica do Colégio Ipiranga, cheia de atividades dinâmicas e interativas. Espero que essa feira, sendo a terceira mais antiga da América Latina, continue disseminando entre jovens e crianças a cultura da leitura, tão essencial nos tempos atuais.

José Orlando Schäfer, Patrono da 50ª FETRELI

Como amplamente divulgado, José Orlando Schäfer foi anunciado Patrono da 50ª FETRELI, durante lançamento da mesma ocorrido dia 14 de agosto no Espaço Cultural, ao lado do prédio da Receita Federal, quando o diretor do Colégio Ipiranga, Nelson Weber, entregou o convite oficial.
“Dentre tantos escritores talentosos que a nossa região possui, receber o convite para ser o Patrono dessa FETRELI HISTÓRICA é uma honra muito grande para mim. É um presente da vida! Minha emoção é inexprimível! Agradeço aos meus amigos e familiares por sempre me ajudarem e inspirarem nesta minha jornada pelo mundo dos livros!” disse o Patrono na oportunidade. E prosseguiu: “Tomado pela emoção do momento, vou até mesmo fazer uma confissão para vocês: depois da experiência de acolher em meus braços as minhas filhas Nathalia e Amanda, a experiência de conversar com os estudantes sobre os meus livros é a das mais gratificantes. Quando tenho oportunidade, vou para as escolas conversar com os estudantes sobre os livros e sobre tudo o que envolve a minha profissão! E, sempre, saio de lá maravilhado com todo o carinho e o cuidado que recebo! Isso me inspira a escrever mais e mais porque sei que temos leitores interessados, curiosos e ávidos pela leitura!”.
José Orlando que desenvolveu diversas visitas e atividades em escolas entre o anúncio e a Feira, declara que “ser o Patrono desta edição da FEIRA DO LIVRO, a mais antiga do Interior do Estado, é uma distinção que marcará a minha vida para sempre!”

Três Passos celebra a quinquagésima edição da FETRELI 

Um fato cultural e literário histórico na região

Um evento histórico e cultural no ano de 1973, despertou a curiosidade e um grande interesse da comunidade local e regional. No ano anterior, estudantes, direção escolar e professores debateram e desenvolveram um projeto inovador e desafiador à época: levar o livro para a rua, ao encontro da comunidade em geral, não só para o mundo estudantil e para os profissionais da educação. A ideia foi absorvida e em pouco tempo ocupou todos os espaços do colégio. Foram estruturadas as comissões, definido o cronograma das etapas e tarefas a serem vencidas de forma a garantir a realização da sonhada e pensada “Feira do Livro”, há 52 anos atrás. Quem assim se manifesta é Clóvis Baraldi Machado, à época vice-presidente do Grêmio Estudantil e coordenador da Feira.
Ele nos relata que o local escolhido foi uma área na esquina das ruas Getúlio Vargas e Santos Dumont (sede da Receita Federal). Naquela quadra irregular existia apenas o prédio dos Correios e Telégrafos, a Praça da Bandeira e uma casa antiga, em madeira, na esquina oposta. Ali, foi preparado o terreno, feito a limpeza necessária e instaladas as estruturas (estandes) simples, em madeira bruta e de demolição, coberta com lona usada em caminhão e folhas de palmeira. Nos dias anteriores à abertura, um verdadeiro mutirão mobilizou estudantes, professores, pais de alunos, além da administração municipal. Finalmente, estava erguida a “cidade de lona”, o espaço simbólico do livro, bem no coração do centro histórico de Três Passos. O diretor professor Dorival Adair Fleck, grande incentivador e orientador do projeto – juntamente com o professor Wilson Ademar Griesang, tomaram para si a responsabilidade das negociações com as editoras e os livreiros de Porto Alegre para fornecer, em consignação, centenas de títulos a serem comercializados durante os dias de feira. Todo o transporte do acervo vindo da Capital foi feito através de uma Kombi de propriedade do Colégio Ipiranga.
Clóvis relata que em 1972 era presidente do Grêmio Cívico e Literário Monteiro Lobato, o colega Roberto Funk, vice. Nossa organização estudantil vivia um momento de efervescência em todas as áreas: cultural, social, desportiva, e nas relações institucionais com a escola. “Precisamos incentivar a leitura, ampliar o conhecimento, melhorar a escrita e a formação intelectual. Que tal a realização de uma feira, oportunizando a todos a aquisição de livros? Devemos pensar nisso”, provocou o diretor em uma Assembleia do Grêmio.
No final 72, eleição do Grêmio. Assumiu a presidência Paulo Souza, me coube assumir a vice-presidência e na coordenação organizacional de uma equipe extraordinária de colegas nas comissões da Feira, sempre com a supervisão do professor Griesang, lembra Clóvis.
A 1ª edição da Fetreli foi inesquecível. A curiosidade e o interesse do público da cidade e da região foram enormes. A venda de livros nas mais diferentes áreas foi acima da expectativa, muitos esgotaram nos primeiros dias do evento. (Além de estimularem conversas e trabalhos em sala de aula, trocas, empréstimos e presentes entre amigos foram resultados positivos contabilizados pelos amigos dos livros). Um espaço matutino diário na Rádio Difusora, comandado pelo colega Jorge Quintana, informava ao público do andamento do evento: programação, livros mais vendidos, sugestões de compras e promoções de venda.
Dando um salto gigantesco no tempo, chegamos a 2024, ano da quinquagésima edição, não fosse a Covid-19, seria neste ano a 52ª edição, ininterrupta, uma das mais antigas do interior do RS, e também, pelo que se tem conhecimento, uma das mais longevas da América latina. Mas o que nos engrandece e nos envaidece é que em cada edição a magia literária reverbera no município e na região, renova com a presença de escritores de diferentes matizes; com a escolha do patrono da feira, referenciando os abnegados fazedores da arte da escrita; a exposição infindável de obras; e, os prêmios e honrarias, como o Fato Literário, através do Projeto Leia Menino, estão entre as muitas conquistas que vem consolidando a FETRELI nestas cinco décadas.
Clóvis Machado é, também, mentor do Espaço FETRELI, criado em 2022, simbolizando toda esta caminhada. O Espaço FETRELI voltou à rua, exatamente no local onde tudo começou. Ali, restabeleceu o marco inicial irradiando uma mensagem histórica; resgatou o nome dos escritores ligados à cidade, além de disponibilizar livros itinerantes, gratuitamente, em forma de ‘leia e devolva’, a Geloteca. Que este local seja consagrado, valorizado, respeitado em forma de tributo a todos e todas que participam e participaram desta linda história de cidadania, conclui Machado em depoimento especial ao Jornal Celeiro.

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