Produtores de Santo Augusto e região enfrentam perdas com milho em fase de floração devido à estiagem

A estiagem registrada nas últimas semanas tem causado sérios prejuízos aos produtores rurais de Santo Augusto e região. Grande parte das lavouras de milho se encontra na fase de floração e início do enchimento de grãos — etapa considerada a mais crítica da cultura — justamente no período em que as plantas mais necessitam de água. As perdas já são expressivas e podem comprometer a rentabilidade da safra.

Segundo o engenheiro agrônomo Mateus Gottardi, o cenário até poucas semanas atrás era considerado muito positivo. “O comportamento da cultura do milho na nossa região vinha se encaminhando muito bem. Tivemos chuvas regulares, lavouras bem implantadas, aplicações de fertilizantes, principalmente nitrogenados, realizadas no momento certo, com boa umidade no solo. A pressão de doenças estava bem controlada, assim como o manejo de pragas, principalmente lagarta e cigarrinha, com baixa incidência”, explicou.

No entanto, conforme o profissional, o problema surgiu exatamente no momento mais sensível do ciclo da cultura. “Agora, no pós-pendoamento e no início do enchimento de grãos, estamos enfrentando de 15 a 20 dias de estiagem, com temperaturas altas, justamente quando o milho tem a maior demanda por água no solo. Essa combinação de calor intenso e falta de umidade ocasionou uma perda de produtividade muito alta”, destacou.

Ainda de acordo com Gottardi, em muitas áreas as perdas já ultrapassam 50%. “Onde se projetava colher entre 160 e 200 sacas por hectare em lavouras de milho sequeiro, hoje encontramos áreas que devem produzir de 80 a 140 sacas por hectare. É uma perda muito significativa, que vai impactar diretamente na rentabilidade do produtor”, afirmou.

Produtores já contabilizam prejuízos

Produtores da região confirmam o agravamento da situação. Conforme relatos, há propriedades que já acumulam quebras estimadas entre 35% e 45%, especialmente em áreas com solos mais rasos e menor capacidade de retenção de umidade. Quem realizou o plantio mais tarde ainda enfrenta um cenário um pouco mais favorável, mas também segue em alerta.

A previsão do tempo indica possibilidade de retorno das chuvas para a próxima semana, o que pode amenizar parcialmente os efeitos da estiagem. No entanto, técnicos e agricultores ressaltam que, devido ao estágio avançado das lavouras, a recuperação total do potencial produtivo já é considerada improvável em muitas áreas.

Emater confirma avanço do estresse hídrico

De acordo com o informativo da Emater/RS-Ascar, a semeadura do milho no Estado alcançou 89% da área prevista, mas foi praticamente interrompida devido à redução acentuada das chuvas na segunda quinzena de novembro. A falta de umidade na camada superficial do solo comprometeu a germinação e agravou a situação das lavouras já implantadas.

O levantamento aponta que 27% das áreas estão em fase de floração e outros 27% no início do enchimento de grãos, fases extremamente vulneráveis ao estresse hídrico e térmico. Nessas condições, há risco direto de falhas na polinização e na formação das espigas.

Em Santo Augusto e região, aproximadamente 45% das lavouras estão em floração e 35% em emissão do pendão. A combinação entre altas temperaturas, baixa precipitação e redução da disponibilidade de água tem provocado murchamento, enrolamento das folhas e senescência das folhas basais, principalmente em solos mais rasos ou compactados, onde a queda na produtividade já é esperada.

As lavouras irrigadas apresentam desempenho superior, com acionamento mais frequente dos sistemas para suprir a elevada evapotranspiração causada pelo calor intenso e pela baixa umidade do ar. As condições fitossanitárias seguem adequadas, com apenas registros pontuais de cigarrinha-do-milho, ainda sob controle.

A estimativa da Emater/RS-Ascar é de cultivo de 785.030 hectares no Estado, com produtividade média prevista de 7.370 quilos por hectare, números que poderão ser revisados conforme a evolução do clima nas próximas semanas.

Estiagem também começa a afetar a soja

Além do milho, a estiagem já começa a preocupar também os produtores de soja. Conforme relatos, áreas semeadas há cerca de 15 dias já germinaram, porém as plantas necessitam de chuva para manter o desenvolvimento adequado. Caso o período seco persista, também há risco de prejuízos nessa cultura.

Enquanto aguardam a confirmação das chuvas previstas para a próxima semana, os produtores seguem apreensivos diante dos prejuízos já registrados e da incerteza quanto à recuperação das lavouras.

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