Por que as crianças mordem? Psicóloga explica comportamento comum na primeira infância

Morder é um comportamento que costuma preocupar pais e educadores, especialmente quando ocorre em escolas e berçários. Apesar do susto inicial, especialistas reforçam que essa atitude é comum entre crianças de 1 a 3 anos e, na maior parte das vezes, não está associada à agressividade. Para compreender melhor o tema, o jornal O Celeiro conversou com a psicóloga Ana Savagnago, que esclareceu por que isso acontece e como os adultos devem agir.
Segundo a profissional, a mordida é frequentemente uma forma de comunicação, já que, nessa fase, a criança ainda está desenvolvendo sua habilidade de expressar sentimentos e necessidades verbalmente. “Situações de frustração, cansaço, desconforto, ciúmes ou até curiosidade podem desencadear uma mordida. Não é, na maioria das vezes, um ato intencional de machucar. É uma resposta impulsiva diante de algo que ela não consegue dizer”, explica Ana.
A boca também desempenha um papel importante no desenvolvimento infantil. É por meio dela que bebês e crianças pequenas exploram o mundo, testando texturas, temperaturas e diferentes sensações. Em ambientes coletivos, quando ainda estão aprendendo a dividir brinquedos, esperar a vez ou pedir ajuda, a mordida pode surgir como uma tentativa imediata de resolver conflitos.
De acordo com orientações da National Association for the Education of Young Children (NAEYC, 2022), comportamento como esse deve ser visto como parte natural do desenvolvimento emocional e social, e não como um “mau comportamento”. A psicóloga reforça esse posicionamento: “O papel dos adultos é intervir com calma, acolher as crianças envolvidas e ensinar alternativas mais adequadas. Punir não resolve, porque elas ainda não têm maturidade para compreender dessa forma”.
Entre as estratégias recomendadas por Ana estão: nomear o sentimento que a criança não conseguiu expressar: “Você ficou frustrado porque o brinquedo foi tirado de você”; oferecer outras formas de comunicação, ensinando palavras simples como “não”, “minha vez” ou “me ajude”; orientar com firmeza, porém sem punição: “morder machuca, vamos tentar outra coisa”; disponibilizar recursos adequados, como mordedores ou atividades sensoriais, quando a criança demonstra agitação ou irritação.
A psicóloga destaca que, ao compreender a fase de desenvolvimento em que a criança se encontra, famílias e escolas conseguem lidar melhor com o episódio, reduzindo culpas e julgamentos. “Com apoio, rotina, acolhimento e intervenções respeitosas, essa etapa tende a passar naturalmente”, afirma.
A orientação técnica e o olhar atento de profissionais da área ajudam a transformar situações de conflito em oportunidades de aprendizado, contribuindo para o amadurecimento emocional das crianças e para relações mais saudáveis no ambiente escolar e familiar.

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