Especialistas reforçam alerta no Dia Nacional de Combate ao Câncer

Nesta quarta-feira, 27 de novembro, o Brasil marca o Dia Nacional de Combate ao Câncer, uma data voltada à conscientização, prevenção e ao incentivo ao diagnóstico precoce das neoplasias — a segunda principal causa de morte no país desde 2003. Criado para ampliar o debate sobre políticas públicas, acesso ao tratamento e redução das desigualdades na saúde, o dia também alerta para a necessidade de fortalecer a rede de atenção oncológica, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS), responsável pelo cuidado da maioria dos pacientes.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer já é a principal causa de mortes prematuras em diversos países. No Rio Grande do Sul, o cenário segue a tendência: em um terço dos municípios, o câncer é hoje a principal causa de óbitos entre as doenças crônicas não transmissíveis. O envelhecimento populacional, a maior expectativa de vida e o diagnóstico tardio explicam parte desse crescimento.

Neste contexto, o  Plano Estadual de Atenção para o Diagnóstico e o Tratamento do Câncer, publicado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), busca modernizar critérios, ampliar a oferta de procedimentos e reduzir o tempo entre diagnóstico e início do tratamento — medida crucial para aumentar as chances de cura e sobrevida.

É justamente nesse cenário nacional que os números da região de Passo Fundo acendem um alerta ainda mais urgente.

Diagnóstico tardio faz mortes por câncer de próstata crescerem na região de Passo Fundo

Mesmo reconhecida como referência em saúde, a região de Passo Fundo enfrenta um avanço preocupante na mortalidade por câncer de próstata. Dados do Painel Oncologia Brasil (Datasus) mostram que os óbitos aumentaram 56% entre 2021 e 2024 nos municípios da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS). Em Passo Fundo, o número de mortes quase dobrou: passou de 14 para 25 — um salto de 78% em apenas três anos.

O diagnóstico tardio é apontado como principal fator para este cenário. Na região, um em cada três homens recebe o diagnóstico quando o câncer já se espalhou para outros órgãos. Em municípios menores, os atrasos são ainda mais graves:

  • Serafina Corrêa: 50% dos casos descobertos no estágio mais avançado;

  • Não-Me-Toque: 74% dos diagnósticos são tardios;

  • Marau: maioria dos casos entre 2020 e 2024 ocorreu em fases avançadas, com 16 mortes registradas.

O oncologista clínico do CTCAN, Dr. Alvaro Machado, explica que o câncer de próstata é silencioso: “Quando descoberto cedo, ultrapassa 90% de chance de cura. Mas, na região, 36% dos casos já chegam em estádio metastático, e 37% sequer têm estadiamento informado — o que prejudica o planejamento de políticas públicas.”

Durante o Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica 2025, Machado acompanhou a apresentação de dados da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). O estudo LACOG 1808 aponta que pacientes da saúde suplementar têm sobrevida mediana de 65,7 meses, enquanto no SUS o índice cai para 44,8 meses — quase dois anos a menos de vida. “Quando o acesso falha, o tempo se perde — e tempo é vida”, reforça.

Além da resistência cultural dos homens em realizar exames preventivos, entraves na rede pública agravam o problema. No Rio Grande do Sul, mais de 21 mil pessoas aguardam consulta com urologista, segundo dados de 2024. “O atraso é duplo: o homem demora a procurar ajuda, e quando procura, encontra a fila lotada”, resume o oncologista Dr. Alex Seidel, do CTCAN.

Ao mesmo tempo, a medicina evolui rapidamente. Técnicas como a biópsia por fusão e exames como o PET-PSMA aumentam a precisão do diagnóstico e reduzem incertezas, embora ainda não estejam amplamente disponíveis no SUS. Para o radiologista intervencionista Dr. Fábio Schaker, esses avanços diminuem os falsos negativos e permitem localizar áreas suspeitas com maior detalhe.

O avanço também chega na área molecular, com a biópsia líquida e exames que identificam mutações específicas do tumor, permitindo tratamentos mais personalizados.

 

Sintomas que merecem atenção

Embora costumem aparecer tardiamente, alguns sinais podem indicar câncer de próstata:

  • Sangue na urina ou no sêmen

  • Aumento da frequência urinária

  • Fluxo fraco ou interrompido

  • Disfunção erétil

  • Dor óssea

No Dia Nacional de Combate ao Câncer, especialistas reforçam: informação, acesso e diagnóstico precoce salvam vidas. A redução das mortes por câncer de próstata na região depende, sobretudo, da quebra de tabus, do fortalecimento do SUS e da busca ativa por exames preventivos.

Com informações do Gercon

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