Câncer como a principal causa de morte em sete municípios da Região Celeiro em 2023

Dados apresentados na quarta-feira, 05 de novembro, durante o Fórum Big Data em Oncologia, no Rio de Janeiro, pelo Observatório de Oncologia, que analisou 26 anos de registros do Ministério da Saúde, colocam o câncer como principal causa de morte em 670 municípios brasileiros, sete deles localizados na Região Celeiro. O número, que considera dados compilados até 2023, o que representa 12% do total. Em 2015, esse número era de 516 municípios, e em 2020, de 606 — um crescimento acumulado de 30% em oito anos.
A distribuição espacial revelou forte concentração nas regiões Sul e Sudeste, que juntas abrigam 76% dos municípios com essa característica (310 no Sul e 200 no Sudeste). O Nordeste respondeu por 13% (85 cidades), o Centro-Oeste por 7% (47 cidades) e o Norte por 4% (28 cidades).
A análise de porte populacional mostrou que o fenômeno ocorre de forma disseminada: 48% dos municípios são de pequeno porte (até 25 mil habitantes), 19% de médio porte (25 mil a 100 mil habitantes) e 33% de grande porte. O conjunto dessas 670 cidades concentra cerca de 9,2 milhões de habitantes.
O Rio Grande do Sul destacou-se como o estado com maior proporção de municípios em que o câncer já é a principal causa de morte — 168 dos 497 municípios (34%). Em São Paulo, esse percentual foi de 11% (68 de 645 municípios). Nacionalmente, o câncer representou 17% de todos os óbitos em 2023, enquanto no território gaúcho atingiu 22%.
O perfil das vítimas seguiu o padrão nacional: 56% dos óbitos ocorreram entre homens e 77% em pessoas com 60 anos ou mais. Os tipos de câncer mais letais foram o de pulmão (12%), seguido por mama (8%) e próstata (7%). No total, as 670 cidades concentraram 16.222 das 255.037 mortes por câncer registradas no país em 2023.
No período analisado (1998–2023), as mortes por câncer aumentaram 120%, enquanto as doenças cardiovasculares cresceram 51%. Isso indica que a mortalidade por neoplasias avança a um ritmo 2,3 vezes mais rápido do que as doenças do aparelho circulatório.
Na Região Celeiro, os municípios de Barra do Guarita (23%), Braga (19%), Humaitá (21%), Miraguaí (21%), São Valério do Sul (23%), Tenente Portela (19%) e Tiradentes do Sul (22%) apresentam o câncer como a principal causa das mortes registradas. O mais comum entre eles, é a Neoplasia Maligna dos Brônquios e dos Pulmões, registrado em três dos sete municípios da microrregião; a Neoplasia Maligna do cólon é o segundo mais comum, represente em dois dos sete; ainda aparecem na lista Neoplasia Maligna da Próstata e Neoplasia Maligna da Gland Supra-Renal.

A sua saúde não pode esperar

A cada ano, milhares de homens são surpreendidos por diagnósticos que poderiam ter sido evitados ou tratados com mais chances de sucesso. A pressa do cotidiano, o medo e até o orgulho mantêm muitos deles longe dos consultórios. Em meio a campanha do Novembro Azul, mês dedicado à conscientização sobre a saúde masculina, diversos eventos acontecem na região na intenção de chamar a atenção da comunidade para a importância da prevenção e diagnósticos precoces, tidas como as principais estratégias para reduzir a mortalidade.
Segundo estimativas do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o triênio 2023–2025, o Brasil registra cerca de 72 mil novos casos de câncer de próstata por ano. O tumor segue como o mais frequente entre os homens, excluindo-se o câncer de pele não melanoma, e apresenta altas taxas de cura quando identificado precocemente, superando 90% dos casos.
“Quando descoberto no início, as chances de cura chegam a 90%. Por isso, exames como o PSA e o toque retal são fundamentais, especialmente para homens a partir dos 50 anos, ou a partir dos 45, quando há fatores de risco, como histórico familiar da doença, obesidade ou pertencimento à população negra”, explica o médico urologista, Dr. Leandro Zambon. “Acompanho diariamente casos em que a prevenção fez toda a diferença. Vejo com preocupação situações em que o diagnóstico tardio limitou as chances de tratamento”, acrescenta.
Contudo, apesar da importância do tema, o Novembro Azul 2025 vai além do câncer de próstata, ele chama a atenção para a saúde do homem como um todo. “Saúde emocional, prevenção de acidentes, controle de doenças crônicas e hábitos de vida mais saudáveis fazem parte desse cuidado mais amplo”, enumera Zambon. “É hora de deixarmos para trás a ideia ultrapassada de que o homem deve aguentar firme, ou que buscar ajuda seria sinal de fraqueza. Esse pensamento custa vidas. O preconceito e o medo não podem ser obstáculos. Informação, prevenção e ação salvam vidas.”, complementa o urologista.

“Homens também adoecem, e tudo bem buscar ajuda”

O silêncio diante da dor ainda é uma realidade comum entre homens, e essa negligência tem custado vidas. Em tratamento, o advogado, Regis Tiago Mahl Kolinski, de apenas 41 anos, reforça a importância de buscar atendimento médico logo ao perceber os primeiros sintomas de que sua saúde não vai bem.
Ele levava uma rotina considerada exemplar, alimentação equilibrada, prática frequente de ciclismo e presença constante na academia. Nada indicava que sua vida mudaria tão abruptamente. Porém, em menos de dois meses, dores intensas no abdome e uma perda rápida de 14 quilos acenderam um sinal de alerta. “Recebi o diagnóstico de câncer no intestino em fevereiro de 2023. A doença já havia se espalhado, com metástases em outros quatro órgãos. Ouvi dos médicos que, se não iniciasse o tratamento imediatamente, talvez não resistisse — meus órgãos estavam bastante comprometidos”, recorda.
A partir dali, iniciou-se uma das fases mais desafiadoras de sua vida. Em março daquele ano, Regis deu início às sessões de quimioterapia. Em setembro, passou pela primeira grande cirurgia, que resultou na retirada de 40% do fígado, onde seis tumores haviam se instalado. Dois meses depois, em novembro, enfrentou outro procedimento extenso: a remoção de um tumor de 7,8 centímetros no reto, mais de dez tumores no peritônio, um no baço e também da vesícula biliar, que já estava tomada pela doença.

“Hoje, ainda sigo em tratamento, com fé, força e esperança. Essa caminhada me ensinou algo essencial: nós, homens, precisamos vencer o medo e o preconceito de cuidar da nossa saúde. A gente nunca imagina que pode passar por algo assim. No meu caso, eu acreditava que, com apenas 38 anos e uma vida ativa, isso jamais aconteceria comigo. Mas a verdade é que o câncer não escolhe idade, condição física ou estilo de vida”, analisa.

Ao refletir sobre a própria trajetória, Regis aponta para um problema cultural que, segundo ele, precisa ser superado urgentemente: a crença de que “homem forte aguenta tudo”. “Essa crença, ainda tão presente na nossa cultura, tem custado vidas. Buscar ajuda médica não é fraqueza, é um ato de coragem e amor-próprio O corpo fala, e ignorar os sinais é como tapar os ouvidos diante de um pedido de socorro. Cada sintoma merece atenção, cada consulta pode significar mais tempo de vida, mais histórias para viver, mais momentos ao lado de quem amamos”, coloca.

Para ele, o Novembro Azul é um alerta que deve ter mais atenção.

“É fundamental estar atento a todas as doenças que possam afetar os homens, especialmente aquelas que podem ser detectadas precocemente. A prevenção e o diagnóstico precoce continuam sendo as melhores armas para salvar vidas. É hora de mudar essa história. O verdadeiro sinal de força está em reconhecer que somos humanos, que também adoecemos, e que cuidar da saúde é o primeiro passo para continuar sendo presença na vida de quem nos quer bem. Dizem que quem procura, acha, mas quando se trata de câncer, achar cedo pode salvar vidas. Prevenção é um ato de amor com você e com quem você ama. Cuide-se, faça seus exames e fale sobre isso”, finaliza Régis.

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