A dor do silêncio e o renascer na maternidade

De onde vem a força de uma mãe? Como entender os mistérios da vida e aceitar as decisões do destino – um processo que deixa cicatrizes eternas, marcas que jamais desaparecerão. Porém, tal qual uma Fênix, ela renasce, para ser novamente colo e abrigo, dotada de uma força imensurável, ancorada em sentimentos que irradiam aos rincões, com o papel protagonista, para trazer luz e acalentar aqueles que acreditam no amor de uma mãe. Jaqueline e Fábio Luis Azambuja enfrentaram a pior dor existente para os pais, a perda do filho Luis Enrique Azambuja, aos 5 anos, em dezembro de 2021, vítima de um acidente de carro. Contudo, mesmo tendo todos os motivos para desacreditar no poder da maternidade, eles apostaram e a chegada do pequeno Rafael trouxe de volta a cor à vida dos agricultores.

 

A tranquilidade e a calmaria da vida no campo, aliada a bagunça gostosa de brinquedos espalhados pelo chão, um lar cheio de alegria e luz – essa era a realidade do casal Jaqueline e Fábio Luis Azambuja desde o nascimento do primogênito, filho Luis Enrique Azambuja. Porém, quis o destino que tudo mudasse e esse cenário repleto de vida e de felicidade, tornou-se apenas uma lembrança. Um acidente de carro, ocorrido em 21 de dezembro de 2021, acabou por vitimar o menino de 5 anos, deixando sequelas imensuráveis no coração daquela família.
A partir dali, foi necessário encontrar maneiras de conviver amigavelmente com o luto. Ora aceitando-o, ora renegando-o, mas convivendo. Para Jaqueline, o silêncio deixado pela partida de Luis Enrique, aliado a organização da casa e a saudade do filho, foram os maiores desafios. “A casa era um barulho só, não tinha silêncio. Os brinquedos espalhados pelo chão – assim eram os nossos dias. Depois da partida do Luis Henrique, tudo mudou. Esse silêncio te mata por dentro, é torturante. Vivíamos uma rotina e de repente tudo muda, perde o sentido, o brilho, a cor, não tínhamos vontade de fazer mais nada. Uma casa limpa e silenciosa é a pior coisa que pode existir”, recorda.
Natural de Severiano de Almeida, ela lembra do filho com carinho. “Ele adorava brincar, se divertir, andar de trator. Gostava de brincar na terra, de visitar os bisavós e de alimentar os animais”, recorda. “Ele nasceu em 27 de agosto de 2016, cheio de vida, de saúde. Loiro dos olhos claros, era o nosso sonho se tornando realidade. Nosso menino, desenhado para nós. Mas Deus tinha outros planos e nos deixou viver esse sonho por apenas cinco anos”, coloca.
Um cenário que quebra, que machuca, que dói até mesmo em quem acompanha de fora a dor da família. Encontrar forças para seguir em frente e quiçá, recomeçar. “Eu não queria mais ser mãe. Para nós, o Luis preenchia tudo. Não sei como explicar a forma que encontramos para seguir em frente e recomeçar a nossa família, mas, com a força do meu esposo, principalmente, e apoio dos familiares, eu engravidei novamente e em 16 de janeiro de 2023 chegou o Rafael. Ele veio para nos devolver a alegria, nosso símbolo do recomeço. Hoje não consigo imaginar como teria sido a nossa vida sem ele”, conta.
Segundo Jaqueline, ao receber a notícia que estava grávida, a espera do Rafael, o medo da perda assombrou os seus pensamentos. “Para quem já perdeu um filho, o medo de passar por tudo novamente é assustador, nos agonia”, explica. Ela diz que até esperava ter uma gestação complicada, devido aos medicamentos que tomava na época e por fazer apenas cinco meses da partida do primogênito, mas não foi bem assim. “Com o nascimento do Rafa, aquela força, aquela alegria, aquela mãe, vai ressurgindo e o medo diminuindo”, complementa.
Hoje, 1 ano e três meses após o nascimento do segundo filho, Rafael, o casal aguarda com ansiedade a chegada de Gabriel, que agora assume o papel de caçula da família. “O Gabriel deve chegar na semana que vem, até o dia 15”, revela a mãe com ansiedade. “Deus é perfeito em todos os detalhes, porque ele foi certeiro em nos mandar o Rafael e o Gabriel, para que tivéssemos força para seguir adiante e recuperar o brilho da vida. A gente nunca vai entender porque precisamos perder o Luis Enrique, mas o que consola uma mãe é saber que um dia haverá um reencontro e quem sabe entender porque tivemos que passar por tudo isso”, reflete.

O luto de uma mãe

A morte é o encerramento do ciclo de uma vida, porém, de difícil compreensão quando os papeis se invertem e aqueles que deveriam dar continuidade à linhagem, partem antes dos pais. Jaqueline diz que a morte de Luis Enrique, até hoje não foi superada e não sabe se um dia será. “A gente vive esse luto, que para mim nunca terá fim. Tu acostumas a viver com essa dor. Já faz dois anos e cinco meses que ele partiu e não tem um dia sequer que eu não chore, que eu não lembre do seu sorriso. Entro no quarto dele e vejo os brinquedos, exatamente como ele deixou. Nem o Rafael, nem o Gabriel tomarão o lugar que era do mano. Viver o luto é inexplicável, mas quando tu olhas o rostinho do Rafa você encontra forças para seguir em frente”, analisa.
Ainda segundo ela, a força da família foi imprescindível para a ‘superação’. “Eu não sei dizer como conseguimos passar por isso. Estamos perdidos sem chão. Nossos amigos, familiares, todos estavam nos apoiando. Tivemos um casal de amigos que ficaram mais de meses em casa conosco, para nossa recuperação, isso foi essencial”, coloca. Jaqueline também enaltece o papel primordial da terapia. “É algo que eu nunca vou deixar de fazer”, afirma.

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