Plano Safra 2025/2026 tem aumento no valor, mas juros mais altos e críticas de produtores

O governo federal anunciou o Plano Safra 2025/2026 com uma liberação recorde de R$ 516,2 bilhões para o setor agropecuário. Desse montante, R$ 414,7 bilhões serão destinados às linhas de custeio e R$ 101,5 bilhões para investimentos. Apesar do volume expressivo, a nova edição representa uma redução em termos reais, quando se leva em conta a inflação acumulada desde o plano anterior.
O aumento da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 15% ao ano — ante 10,5% na safra passada —, obrigou o governo a elevar o custo do crédito rural. Praticamente todas as linhas de financiamento tiveram reajuste nas taxas. No Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), por exemplo, os juros passaram de 8% para 10%. No RenovAgro e no Programa para Construção de Armazéns (PCA), a taxa subiu de 8,5% para 10%. Linhas como o Custeio Empresarial e o Moderfrota também foram impactadas, com aumento de dois pontos percentuais.
Essa elevação preocupa produtores, especialmente os de menor porte, que enfrentam margens de lucro cada vez mais apertadas. O produtor rural Luis Kessler, de uma propriedade leiteira da região Celeiro, compartilhou sua visão sobre o cenário:
—“Entendo que a Selic subiu, mas para nós produtores isso pesa demais. A verdade é que, se nós recebêssemos um valor justo pelos nossos produtos, nem precisaríamos financiar”, afirmou.
Kessler também apontou a falta de valorização da produção nacional e o impacto das importações na renda do produtor rural. Segundo ele, o financiamento, embora necessário, se torna uma armadilha para muitos:
— “A gente pega dinheiro emprestado, paga 20% a mais no fim, e isso vira um ciclo vicioso: um financiamento serve para pagar o anterior. Está todo mundo enroscado, grande ou pequeno. Estamos financiando um financiamento”, desabafou.
Outro ponto levantado por ele foi o funcionamento do seguro agrícola. De acordo com Kessler, mesmo pagando 12% sobre o valor financiado para o Proagro, o retorno em caso de perdas por clima é limitado, e os produtores muitas vezes saem no prejuízo:
— “Antes, quando acontecia uma perda total, tu não precisava pagar de volta. Agora, tu paga o financiamento mesmo assim, e só uma parte é coberta”, reclamou.
Com a nova edição do Plano Safra, o governo tenta manter o fôlego do setor agropecuário, essencial para a economia brasileira. No entanto, o aumento dos custos, a alta dos juros e as dificuldades enfrentadas pelos produtores revelam um desafio persistente: como tornar o crédito rural mais acessível e eficiente sem comprometer a sustentabilidade financeira de quem está no campo.
Kessler resume a situação de muitos agricultores brasileiros:
— “Se a gente ganhasse bem pelo que produz, bastava comprar à vista o adubo, a semente e plantar tranquilo. Mas do jeito que está, está todo mundo com o pé na cova. E ninguém tem coragem de dizer isso.”

Leave a comment