Suicídio: um problema de saúde pública

Com a chegada do mês de setembro, as tonalidades amarelas tomam conta das iluminações dos prédios públicos, uma medida muito aquém da necessidade de ação exigida por um problema de saúde pública, que apresenta impactos na sociedade como um todo. O Setembro Amarelo é uma campanha criada em prol do combate a prática do atentado contra a vida, e neste ano de 2023 tem como slogan a frase Se Precisar, Peça Ajuda.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama – ou guerras e homicídios. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa e morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Trata-se de um fenômeno complexo, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades.

​Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde divulgado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil. As taxas variam entre países, regiões e entre homens e mulheres. No Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, morrem devido ao suicídio. As taxas entre os homens são geralmente mais altas em países de alta renda (16,6% por 100 mil). Para as mulheres, as taxas de suicídio mais altas são encontradas em países de baixa-média renda (7,1% por 100 mil).

Embora alguns países tenham colocado a prevenção do suicídio no topo de suas agendas, muitos permanecem não comprometidos. Atualmente, apenas 38 países são conhecidos por terem uma estratégia nacional de prevenção do suicídio.

Para tanto, o jornal O Celeiro conversou com a psicóloga, Ana Savagnago, para tratar do assunto. Confira.

JC: Por que é importante tratar saúde mental em todas as idades?

Ana: “Porque estamos suscetíveis a traumas emocionais, sofrimento e dor que podem afetar a nossa subjetividade e, consequentemente, levar a transtornos mentais em qualquer fase da vida”.

JC: A depressão é um gatilho para o suicídio? Qual a relação entre as situações?

Ana: “Não só a depressão, como qualquer outro transtorno mental. Dados alertam que a massiva maioria das pessoas que cometeram suicídio apresentavam pelo menos um transtorno mental (segundo dados do site setembroamarelo.com), daí a importância da identificação e tratamento dos transtornos mentais como um dos principais fatores de proteção na prevenção do suicídio. Lembrando que, quem trata de transtornos mentais é o médico psiquiatra ou outro profissional de saúde mental”.

JC: Existem sinais que uma pessoa costuma apresentar que podem indicar a presença de ideias suicidas? Ao perceber alguns desses sinais como devemos agir?

Ana: “Sim, existem. Na ideação suicida geralmente surgem comentários que demonstram desespero, desesperança e desamparo, como “seria melhor se eu não tivesse nascido”, “seria melhor se eu estivesse morto”, “seria melhor se eu não estivesse aqui”… essas verbalizações são

sinais de alerta e servem como “pedido de socorro”. Porém, em muitos casos, ela pode não verbalizar, mas apresentar outros sinais, como mudanças bruscas de humor, tristeza, isolamento e desesperança.

Para evitar o suicídio é necessário que as pessoas se informem, aprendam e ajudem o próximo. É importante que saibam identificar quando uma pessoa está pensando em se matar e a ajude, tendo uma escuta ativa e sem julgamento, demonstrando disponibilidade e empatia, e, principalmente, levando-a a um profissional de saúde mental que vai saber como manejar a situação e salvar esse paciente”.

JC: Apesar de haver predominância numa certa faixa etária, há registro de suicídio em todas as idades. Por que o suicídio infantil é o mais difícil de ser trabalhado?

Ana: “Porque na nossa sociedade ainda é inaceitável que uma criança tire a própria vida. Em muitos casos, não se aceita nem que a criança tenha sentimentos, sofra, fique triste, porque creem que ela é uma criança e, crianças não tem que o que se preocupar e com o que sofrer. O que não é uma verdade. Criança é um ser humano e, como tal, tem sentimentos desde os primeiros meses de vida. Além disso, o tema é um tabu, pouco se fala do assunto dentro dos lares ou das escolas, pelo medo que se culmine e um fato, não se percebe como um ato de prevenção. Assim sendo, a atenção, cuidado, prevenção e acompanhamento por profissional de saúde mental deve ocorrer da mesma forma com uma pessoa com ideação suicida de qualquer outra idade, porém adequando-se para a sua faixa etária (psicólogo infantil, por exemplo)”.

JC: Quando uma pessoa comete suicídio é comum pensar primeiro na vítima. Mas como é possível trabalhar o luto de familiares nestes casos?

Ana: “Muitas vezes os familiares também são vítimas do suicídio do ente querido e sofrem duramente pela perda, junto com o sentimento de raiva ou de culpa. O mais importante neste momento, é respeitar o luto e o seu tempo, porém se a dor for incapacitante ou demorar muito a passar, a ajuda profissional pode ser necessária”.

JC: Pelo menos Mais de 13 mil pessoas todos os anos morrem vítimas de suicídio. A campanha Setembro Amarelo busca diminuir esses índices. Qual a importância dessa campanha?

Ana: “A importância está em falar sobre o suicídio, este tema que é um tabu. Além de abordar a importância e a valorização da vida e da saúde mental”.

JC: Para finalizar, é possível prevenir o suicídio?

Ana: “Sim, em quase 100% dos casos é possível prevenir. Em primeiro lugar estando presente, não tem como percebermos os sinais se não estivermos presentes com nossos familiares e amigos. Após perceber algum sinal de alerta, é importante acolher o outro com uma escuta ativa e sem julgamento, com um olhar empático e demonstrando disponibilidade, inclusive para direcioná-lo a um profissional de saúde mental (psiquiatra ou psicólogo). Outro fator relevante é o dificultar ou impedir o acesso a meios letais (armas brancas ou de fogo, veneno, drogas, entre outros)”.

Por Karine Vieira.

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